sexta-feira, 9 de julho de 2010

recortes



Brinco que minha primeira percepção de mortalidade foi quando descobri que não vou conseguir ler todos os livros que eu gostaria. Até então, eu sentia aquela angústia ao entrar no sebo ou na livraria. Parecia que os livros estavam todos me olhando e esperando a sua vez, e o tempo passando...

Algum tempo depois notei a mesma angústia relacionada a outras áreas da minha vida. Como se eu estivesse sendo cobrado para dar atenção, pelo menos um pouco, por todos os livros, filmes, amigos, namoradas, familiares, religiões, hobbies, disciplinas.

Eu ia na feirinha anual da Pompéia ou na Festa Junina do colégio, onde grande parte do meu grupo de amigos se reunia, e tentava ficar um pouco com cada grupo, e ligava pra um por um pra ir ao seu encontro, nem que fosse apenas pra cumprimentar.
Então começou a vir o vazio, de ter ficado um pouquinho aqui, um pouquinho lá, de ter dado oi pra um prestando atenção no outro, e de no fundo não ter ficado com ninguém realmente.

Queria fazer yoga de manhã, trabalhar dez horas no dia, fazer exercício de noite, e fazer uma leitura antes de dormir. Ser 'super' homem.

Mais uma vez, chega uma percepção de mortalidade e finitude. Algo muito humano, como uma relação entre grande potencial de auto realização e vida extremamente curta pra abarcar tudo.

O movimento digital que as relações vem fazendo também me ajudaram nessa reflexão. Há muita informação, há muita facilidade de encontrar e contatar qualquer pessoa, há um mundo de possibilidades bem na sua frente, nessa telinha que você está olhando agora. Mas há também uma brevidade e finitude como limitador desse tudo.

E em um processo de maturidade a gente começa a ver completude e perfeição no parcial, no momento. E inevitavelmente vamos em direção à qualidade e intensidade das experiências, e não na quantidade.

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