sexta-feira, 30 de abril de 2010

História de qualquer um



Texto de Debora Rebecchi:

"Se conheceram numa festa confusa e cheia. De gente, de bebida, de som, de aparência, de cigarro, de risos falsos (e não tão falsos) e de discursos vazios.

Conversaram rapidamente e depois, se perderam no meio da multidão que se misturava numa pista apertada e com uma luz frutacor.

Não foi amor à primeira vista mas ela o achou interessante e gostou dos seus olhos. Foi atração à primeira vista e ele gostou do sorriso e da bunda dela.
Depois de muitas cervejas, ela acabou numa escada atracada com um antigo caso.
Depois de muitas vodkas, ele acabou no banheiro feminino num beijo a três.
Semanas depois, o destino ou o acaso quis que eles se reencontrassem na saída de uma peça de teatro.
Se olharam, sorriram, comentaram sobre o que tinham visto.
Mais três sorrisos depois, telefones trocados.

Conquista, corações disparados, beijos, cinema, mensagens, beijos, restaurante, email, mais beijos, filme com pipoca, beijos, passeios na Paulista, amassos no elevador, promessas, bilhetes, bar, casa dele, sexo, abraços apertados.
Ela gostava do modo prolixo que ele falava sobre qualquer coisa. Ele gostava de algo misterioso que ela tinha no olhar.
Conversas, noites abraçados, almoços em família, discussões, bicicletas no parque, praia, jantares com amigos, aniversários, motel, shopping, desabafos, presentes, abraços.

Ela se incomodava com a capacidade dele de ser prolixo sempre.

Ele se incomodava com o ar de mistério que ela mantinha sempre.

Mãos que não se encontram no escuro do cinema, beijos desencaixados, encontros mornos, desentendimentos, telefonemas propositalmente não atendidos, desculpas esfarrapadas, cama vazia, abraços frouxos.
Ela não suportava a complexidade que ele punha em tudo o que fazia.
Ele não suportava o enigma que ela tinha se tornado.
Distância, brigas, choros, revolta, perguntas, tentativas, frustração, despedidas, silêncios, abraços inexistentes.
Ela procura alguém mais simples. Ele procura alguém mais acessível."

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Feliz por nada



Dedico esse texto a quem o compartilhou comigo, minha amiga Larissa:

"Geralmente, quando uma pessoa exclama ‘Estou tão feliz!’, é porque engatou um novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que não é seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas. Muito melhor é ser feliz por nada.

Digamos: feliz porque ainda é abril e temos longos oito meses para fazer de 2010 um ano memorável. Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz porque se achou bonita. Feliz porque existe uma perspectiva de uma viagem daqui a alguns meses. Feliz porque você não magoou ninguém hoje. Feliz porque daqui a pouco será hora de dormir e não há melhor lugar no mundo do que sua cama.

Esquece. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito.

Feliz por nada, nada mesmo?

Talvez passe pela total despreocupação com essa busca. Essa tal de felicidade inferniza. ‘Faça isso, faça aquilo’. A troco? Quem garante que todos chegam lá pelo mesmo caminho?

Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando ‘realizado’, também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma. Consciência. Felicidade é ter talento para aturar, é divertir-se com o imprevisto, transformar as zebras em piadas, assombrar-se positivamente consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo.

Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.

Se quiser ser mestre em alguma coisa, tente ser mestre em esquecer de você mesmo. Liberte-se de tanta procura por adequação e liberdade. Ser uma pessoa adequada e livre – simultaneamente! – é uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir tanto?

E tempo esgotado para o questionário de Proust, essa mania de ter que responder quais são seus defeitos, suas qualidades, sua cor preferida. Chega de se autoconhecer! Você já está aqui, já tem seu jeito, já carimbou seu estilo e assumiu que é um imperfeito bem intencionado.

Feliz por nada talvez seja isso."

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Muhammad Yunus



"Empresa social é - segundo Yunus - uma organização voltada para causas. Nela, os acionistas não estão preocupados com bottom line e admitem a idéia de apenas recuperar o dinheiro investido. Os resultados financeiros - sim, persegui-los é importante! - são integralmente revertidos na melhoria de um produto ou serviço com claro apelo social e também na expansão do seu “mercado” local. (...)

Na Wall Street, pós ou pré-crise do subprime, modelos como este são tratados com ironia e desdém, e gente da estirpe de Yunus, como poetas sonhadores. De lado qualquer licença poética, o fato é que, há quatro anos, Yunus convenceu Franck Riboud, CEO da francesa Danone, a fundar, com o Grameen Bank, a primeira empresa social de Bangladesh, um país com 150 milhões de habitantes e uma renda per capita menor que US$ 4 por dia.

Durante almoço em Paris, Riboud confessou que desejava encontrar formas inovadoras de estender a missão da companhia de contribuir para a saúde de mais pessoas, especialmente das mais carentes. Yunus, por sua vez, viu na fala do executivo uma oportunidade para turbinar sua luta contra a desnutrição no país. Reunida a fome com a vontade de comer, nasceu, seis meses depois, a Grameen Danone Foods - uma pequena fábrica localizada em Bogra, no Norte de Bangladesh, produtora do Shoktidoi, um iogurte fortalecido com vitaminas e sais minerais.

(...)

No caso da empresa social de Bangladesh, recai um desafio de outra ordem: oferecer um bom produto a preço bastante acessível para pessoas de baixíssima renda. Os sócios da Danone Foods prevêem que a fábrica deverá equilibrar entradas e saídas apenas daqui a dois anos, quando puder ocupar toda a sua capacidade produtiva. Alto investimento para alta recompensa social.

(...)

Evidentemente, experiências como a de Yunus ainda são vistas como alternativas, até porque confrontam a lógica vigente da rentabilidade de curto prazo. Não há nenhum sinal no horizonte mais próximo de que as empresas venham a aceitar a idéia de substituir a recompensa financeira pelo dividendo social aos seus investimentos. De qualquer modo, é bom para o mundo que as empresas sociais existam e em número cada vez maior, ainda que como símbolos de um ativismo generoso e solidário, expressões da missão institucional de empresas que pretendem deixar o mundo melhor para futuras gerações. Coexistindo com as empresas convencionais elas não nos farão esquecer nunca de que o melhor lucro é aquele que está a serviço do desenvolvimento, do bem-estar e da qualidade de vida das pessoas. Não custa sonhar que, um dia, Yunus convença Immelt a criar uma empresa social."

fonte: http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/e-possivel-uma-empresa-social/

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Síndrome dos vinte e tantos





















A Síndrome dos vinte e tantos


"Também chamada de 'crise do quarto de vida'.

Você começa a se dar conta de que seu círculo de amigos
é menor do que há alguns anos. Se dá conta de que é cada
vez mais difícil vê-los e organizar horários por
diferentes questões: trabalho, estudo, namorado(a) etc..

E cada vez desfruta mais dessa cervejinha que serve como
desculpa para conversar um pouco. As multidões já não
são 'tão divertidas'. E as vezes até lhe
incomodam. E você estranha o bem-bom da escola, dos grupos,
de socializar com as mesmas pessoas de forma constante.

Mas começa a se dar conta de que enquanto alguns eram
verdadeiros amigos, outros não eram tão especiais depois
de tudo. Você começa a perceber que algumas pessoas são
egoístas e que, talvez, esses amigos que você acreditava
serem próximos não são exatamente as melhores pessoas que
conheceu e que o pessoal com quem perdeu contato são os
amigos mais importantes para você.

Ri com mais vontade, mas chora com menos lágrimas e
mais dor.
Partem seu coração e você se pergunta como essa pessoa
que amou tanto pôde lhe fazer tanto mal. Ou, talvez, a
noite você se lembre e se pergunte por que não pode
conhecer alguém o suficiente interessante para querer
conhecê-lo melhor. Parece que todos que você conhece já
estão namorando há anos e alguns começam a se casar.
Talvez você também, realmente, ame alguém, mas,
simplesmente, não tem certeza se está preparado (a) para
se comprometer pelo resto da vida.

Os rolês e encontros de uma noite começam a parecer
baratos e ficar bêbado(a) e agir como um(a) idiota começa
a parecer, realmente, estúpido.
Sair três vezes por final de semana lhe deixa esgotado(a)
e significa muito dinheiro para seu pequeno salário. Olha
para o seu trabalho e, talvez, não esteja nem perto do que
pensava que estaria fazendo. Ou, talvez, esteja procurando
algum trabalho e pensa que tem que começar de baixo e isso lhe
dá um pouco de medo.

Dia a dia, você trata de começar a se entender, sobre o
que quer e o que não quer. Suas opiniões se tornam mais
fortes.
Vê o que os outros estão fazendo e se encontra julgando
um pouco mais do que o normal, porque, de repente, você tem
certos laços em sua vida e adiciona coisas a sua lista do
que é aceitável e do que não é.

Às vezes, você se sente genial e
invencível, outras. Apenas com medo e confuso (a). De
repente, você trata de se obstinar ao passado, mas se dá
conta de que o passado se distancia mais e que não há
outra opção a não ser continuar avançando.

Você se preocupa com o futuro, empréstimos, dinheiro. E
com construir uma vida para você. E enquanto ganhar a
carreira seria grandioso, você não queria estar competindo
nela. O que, talvez, você não se dê conta, é que todos
que estamos lendo esse textos nos identificamos com ele. Todos
nós que temos 'vinte e tantos' e gostaríamos de
voltar aos 17-18 algumas vezes. Parece ser um lugar
instável, um caminho de passagem, uma bagunça na
cabeça. Mas TODOS dizem que é a melhor época de nossas
vidas e não temos que deixar de aproveitá-la por causa dos
nossos medos. Dizem que esses tempos são o cimento do
nosso futuro. Parece que foi ontem que tínhamos 16.
Então, amanha teremos 30?!?! Assim tão rápido?!?!
FAÇAMOS VALER NOSSO TEMPO. QUE ELE NÃO PASSE!"

quinta-feira, 8 de abril de 2010

domingo, 4 de abril de 2010

Maturidade e beleza













"Por um breve momento, quando eles têm 43 anos cada um, as trajetórias dos personagens de Brad Pitt e Cate Blanchett se encaixam e eles se olham num espelho. O que veem - e o espectador compartilha - é este instante em que maturidade e beleza se completam e contemplam. Mas é só isso mesmo - um instante na eternidade. No restante do tempo, ou nos 166 minutos que compõem a narrativa do novo filme de David Fincher -, Pitt e Cate vivem vidas paralelas e até inversas. Ela começa o filme como uma velha, num hospital de New Orleans sitiado pelo vento. Daqui a pouco, anunciam as autoridades, vai começar o furacão Katrina, que destruiu a cidade em 2005. Cate está morrendo, acompanhada pela filha (Julia Ormond). Enquanto esperam pelo inevitável, ela dá à filha um diário e pede que o leia em voz alta. O diário relata, na primeira pessoa, ‘o curioso caso de Benjamin Button’ (...)

Um bebê velho que vai remoçando à medida que se desenrola o fio de sua vida. Velho, Benjamin conhece esta garota, Daisy. Vivem vidas invertidas e só por um breve momento, diante daquele espelho, eles atingem a perfeição do seu relacionamento.

“O Curioso Caso de Benjamin Button” talvez seja o mais estranho filme a surgir de Hollywood em anos. É tão delicado, frágil, tão perfeito - por mais risco que essa palavra envolva, como definição - que quase não tem competidor, e certamente não o tem na própria obra de Fincher, por mais importantes (e influentes) que sejam alguns, ou vários, de seus filmes. Benjamin Button, dependendo da sensibilidade do espectador, da ‘sua’ sensibilidade, leitor, poderá lhe produzir, quem sabe, uma epifania.

Se for ao dicionário, você verá que a palavra designa a manifestação do próprio Cristo aos gentios, na pessoa dos Reis Magos, quando chegaram para adorá-lo. Uma manifestação do divino, portanto. Metaforicamente, um êxtase que certas obras de arte logram produzir. Dizem os especialistas que Bach produzia sua música para que os homens pudessem se comunicar com Deus e Van Gogh, numa carta ao irmão Theo, diz que o objetivo final de sua pintura é levar um pouco de consolo aos homens. Pode parecer exagerado que Fincher tenha logrado algo parecido, e num filme produzido pelo cinemão, por Hollywood. Vai depender, claro, de sua abertura para o filme, ou da sua não resistência (...)

“Benjamin Button” fala de amor, de tempo e vento. Mas lá pelas tantas ocorre outra coisa curiosa, embora talvez não tanto quanto um bebê nascer velho e ir regredindo até... Até quando? Pois essa é uma das questões que podem atordoar o público. Como vai terminar essa história? O que vai ocorrer com Benjamin? Numa cena, algo vai acontecer com Daisy e aí é a narrativa que se inverte. Em seus filmes anteriores, Fincher já levou sua câmera a insólitas viagens pelo interior do corpo humano, ou da mente. Aqui, a viagem ‘interna’ é no próprio relato. Algo vai acontecer, mas o narrador se pergunta - se uma série de situações não tivessem se encadeado, se uma pessoa não tivesse se atrasado aqui, se outra não tivesse chamado um táxi ali e assim por diante, algo talvez não ocorresse e esse ‘algo’ talvez seja a essência de Benjamin. A fragilidade. Mais do que um conto sobre a diferença, é sobre a fragilidade humana (...)

Em “Benjamin Button”, (...) e o velho retrocede até virar um bebê, sua trajetória inversa significa que, num determinado momento, ele vai se esquecer de tudo e todos e fazer sua viagem para o ventre materno, ou para a morte, não importa. O filme existe para iluminar essa trajetória, para eternizar esse momento.

Talvez, dependendo do espectador, seja tão emocionante quanto recuar, no imaginário, a um grande Ingmar Bergman do começo dos anos 70. Em “Gritos e Sussurros”, o grande diretor mostrou duas irmãs e uma ama que acompanham a agonia de uma terceira irmã, que está morrendo. Todo mundo sofre, mas Bergman termina seu filme com as quatro mulheres de branco, num jardim, como se quisesse nos dizer que a vida vale a pena nem que seja por esse momento raro de harmonia."